segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Projeto de criação do Centro Cultural da Fazenda Dambe do Alto


Comemorando 80 anos de vida, procurando novas soluções e alternativas para o futuro de minha fazenda e para a realização de idéias e projetos cultivados e debatidos há anos com amigos, apresento esta proposta de criação do Centro Cultural do Dambe, em minha pequena propriedade rural.

Compreendi ao longo de minha experiência que a idéia de sucesso econômico é apenas a base para viabilizar um empreendimento capaz de transformar e evoluir nossa forma de viver; este sim o foco e o ideal a ser perseguido. Percebi também que a natureza clama para que a humanidade compreenda a necessidade de equilibrar a gestão dos recursos e aprenda a produzir em parceria com o meio ambiente, interagindo harmonicamente com a diversidade dos reinos que regem a vida no planeta.

Diante deste quadro, elaborar um projeto para este pedaço de terra que o destino colocou em minhas mãos, foi meu ofício nestes anos que vivi em Simões Filho. Formatar estas idéias e apresentá-las como peça de campanha para concorrer a uma vaga na Câmara Municipal me parece a melhor forma de distribuir este conhecimento e caso eleita, poder trabalhar por elas nos próximos 4 anos.

PRINCÍPIOS

A consciência ecológica impõe que os novos empreendimentos devem ser sustentáveis. Obrigatoriamente. Na a agricultura isto quer dizer que ao longo do tempo a atividade deve aprimorar a saúde da terra para receber boas sementes, e gerar alimentos de qualidade. Portanto sem venenos, sem o arsenal químico criado pelo agro negócio e na escala que iremos consumir em nosso dia a dia e processar o excedente para vender aos vizinhos. Felizmente a Agricultura Orgânica é hoje uma realidade economicamente lucrativa e ainda a única maneira de garantir qualidade de vida a nossos descendentes.

Transparência e gestão cooperativa são outros conceitos básicos para criar novas parceiras de trabalho mais produtivas que a desgastada relação de empregado e patrão, no ambiente de conflito entre o capital e  trabalho. No século XXI, compartilhar conhecimentos, recursos e habilidades fazem o laço entre parceiros que articulam seus talentos para criar a prosperidade necessária para que todos possam evoluir segundo seu próprio plano de vida.

Aprender a viver um mundo altamente conectado é também uma exigência do novo modelo de empreendimento. Computadores são as novas ferramentas que estão em todos os ramos da atividade humana e nos permitem criar redes de pessoas e formar comunidades de forma impensável a poucos anos atrás. Entender esta nova realidade e explorar seus recursos certamente revoluciona nossa forma de aprender e trabalhar. A aproximação entre escola e oficina cria um ambiente apropriado ao conceito de formação contínua, em oposição ao tempo em a aprendizagem profissional se encerra na formatura. A dinâmica entre a experiência prática e a pesquisa no mar de informações da internet efetivamente distribui o conhecimento livre e democraticamente.

Por fim, considero fundamental conviver com pessoas que admiro, respeito e que tenham a audácia de colocar o coração em seus projetos e atividades, pois são estas as pessoas necessárias para criar e bem viver os próximos desafios que a Terra nos apresenta.

A FAZENDA DAMBE DO ALTO

Criar uma solução sustentável para os 5 hectares da Fazenda Dambe do Alto é também dar destino ao legado de minha vida. Instituir uma entidade que leve minhas crenças e convicções para alem de meus dias me alegra. Oferecer a meus descendentes naturais e também aos filhos e netos por afinidades que fiz nestes anos na Bahia, este recanto transformado numa eficiente plataforma de vivencia e produção me dará um sentimento de dever cumprido que me fará feliz e ainda, se nossa experiência servir e for útil para que outras comunidades em outros rincões possam se desenvolver e evoluir, darei graças pela oportunidade desta vida.

Observado do satélite, nas coordenadas 12º45’27”S e 38º25’26”O está o Dambe. Em Simões Filho, ao final da BA50, passando por baixo do pontilhão da BR386 e entrando numa estradinha e terra a direita antes do portão da RDM, também se chega ao Dambe. Por esta estrada, chega-se às Ruínas da Igreja de São Marcos de Cotegipe, sitio histórico (não tombado) da colonização do Recôncavo e das Lutas pela Independência. A relevância histórica se sobrepõe ao fato de ser a única saída para o mar em Simões Filho e um espaço de lazer e esportes náuticos, hoje inacessíveis a população.

A Fazenda Dambe é vizinha das ruínas da Igreja. Seus antigos proprietários, na década de 60, exerciam uma pecuária leiteira, cuja produção era transportada de canoa até o outro lado do canal e escoava para Salvador pela estrada de ferro.

Em 1981, a fazenda foi comprada em “sociedade” com Edmar Loureiro e construída uma represa capaz de armazenar a água necessária para implantação  de todas as atividades agrárias planejadas. Em 1986, com o encerramento da “firma”, coube-me os 5 hectares ao redor da antiga sede da Fazenda, confrontado em 3 dos lados pela maré. Deste pequeno pedaço de terra,do qual tenho documentos firmes e registrados, disponho para realização deste projeto. Quem conhece o local, sabe de sua beleza. Quem me conhece sabe do carinho que tenho por este lugar. Que ele seja o berço de inovações transformadoras.


As instalações

A Casa Sede ainda tem paredes de taipa originais de sua construção. Temos algumas pistas da distribuição original do imóvel a época de João da Costa. A apropriação dos cômodos nas diversas funções, marcaram o espaço e fornecem rastros para recomposição da vida na fazenda por esta época.


Modelagem original

Neste espaço, minha moradia nos últimos 30 anos, funcionamos um restaurante que teve certo prestígio em sua época. Em outro momento, montamos uma cozinha de congelados, que forneceu refeições personalizadas a clientes fixos, desenvolvendo o atendimento de dietas específicas para doentes crônicos. Quando um vizinho pode fornecer leite, produzimos queijos e iogurtes, que foram muito bem aceitos pela clientela. Horta orgânica, criação aves, secadores solares, rações animais, produção de compotas, doces e licores com frutas colhidas na fazenda, são ensaios que em algum momento desenvolvemos ao longo destes anos.

Minha nesga de Mata Atlantica



Entre os diversos problemas que enfrentamos, destacam-se os que afetam nossa Mata Atlântica, que vem sendo dizimada em ritmo três vezes maior que a Floresta Amazônica, sendo considerada a segunda floresta mais ameaçada do Planeta.
A natureza é formada por um grande numero de organismos que se relacionam das mais diversas formas, gerando verdadeiras redes vivas. Nestas redes nada se perde. O resíduo de uma é o alimento da outras. Quanto mais diversificadas forem estas redes, quanto mais espécies de animais e vegetais elas incluírem, maior será sua capacidade de sobrevivência e de recuperação.
Não devemos esquecer que nos também fazemos parte destas redes vivas e dependemos delas para nossa própria sobrevivência. Assim, qualquer ação positiva que tomemos para a preservação do meio ambiente, por mais simples que seja, tem o poder de multiplicar-se através de tais redes e beneficiar a natureza como um todo.
Temos  o direito de utilizar os recursos naturais para melhorar nossa qualidade de vida, porém temos a obrigação de fazê-lo com consciência, para que esses mesmos recursos possam fazer parte dasvidas de nossos filho, netos e todas as gerações futuras.”
Do folder comemorativo do dia da Preservação do Meio Ambiênte publicado pela Petrobras

Há 30 anos, quando adquirimos a Fazenda Dambe, ela esta praticamente desativada, pois o velho João Costa, o heróico proprietário, unificador das glebas que formam esta fazenda, criando gado leiteiro, que era remetido diariamente para Salvador pela estrada de ferro, depois de atravessar o braço de mar em canoa. Eu hoje imagino as dificuldades deste trabalho, principalmente durante o inverno, quando a produção se torna maior e as estradas viram autentico sabão.
Os pastos nesta época chegavam até a maré, mas começaram ser desativados com a morte do proprietário e venda do gado. Quando adquirimos a Fazenda utilizamos os terrenos mais facilmente agricultáveis e os mais íngremes não foram explorados, portanto, hoje existe na fazenda áreas não tocadas há 40 anos, e que é a menina dos meus olhos.
Poderemos ativar uma idéia que surgiu anos atrás de um convenio com a UFBA para que os alunos de botânica fizessem a identificação das espécies, e nos orientasse na transformação em área de visitação para os jovens das escolas que pretendemos receber e a todos que desejem visitá-la com a um santuário.

Ainda do Folder da Petrobras, “ Para ajudar a socorrer e preservar a Mata Atlântica, você, como cidadão, não só pode como tem o dever de contribuir.

Projeto Quero uma Vaca


Em toda a história da humanidade, nunca a natureza esteve tão ameaçada como agora. O aumento  da população, o crescimento desordenado das cidades, o consumo crescente de energia e o desperdício de recursos naturais estão entre as causas dos principais problemas que hoje afetam o meio ambiente: aumento da poluição, mudanças climáticas, escassez de água potável, redução da disponibilidade de terras produtivas e perda da biodiversidade
Ao mesmo tempo, a utilização dos recursos que a natureza nos oferece é essencial para reduzir a pobreza e as desigualdades entre regiões e países. Estes recursos porém não podem continuar sendo utilizados de maneira como são hoje, que vem provocando inúmeros problemas ambientais. A solução é um novo modelo de desenvolvimento chamado Desenvolvimento Sustentável, capaz de permitir o uso dos recursos naturais, sem causar prejuízo às futuras gerações
Do folder comemorativo do dia da Preservação do Meio Ambiênte publicado pela Petrobras
.

Há muito tempo tenho tentado convencer meus vizinhos aqui do Dambe, a venderem o seu gadinho pé duro, em média uma dezena de cabeças, improdutivas na produção de leite, e acabando os machos na matança clandestina e substituir por uma vaca raceada especializada na produção de leite, de preferência a Jérsey.
A raça Jersey, chamada raça manteigueira, é um animal pequeno, dócil, capaz de se alimentar amarrada (na corda como se diz na roça), diminuindo a necessidade de cercas e aproveitando todas as áreas de capim de uma propriedade.
A aquisição de uma vaca de comprovada produção de 10 litros diários em duas ordenhas e  com uma cria fêmea, teremos condição de iniciar imediatamente a produção de queijos, iogurtes etc., garantindo até a possibilidade de um empréstimo  bancário que será menor por não precisar de prazo de carência como os empréstimos agrícolas.
Iniciada a produção de queijos, teremos um subproduto ainda muito rico em vitaminas e sais minerais, além de enzimas digestivas essenciais e indispensáveis ao desenvolvimento da cria. Este soro que sobra em abundância na produção de queijo, devidamente engrossado com soja,  seja ela cozida e passada pelo liquidificador, ou adquirida já na forma de leite em pó, será em duas ou três semanas misturada ao leite dado a bezerra em proporções crescentes até que passa a ser alimentação exclusiva, deixando para a produção todo o leite produzido pela matriz. O excedente pode alimentar outros animais ou voltar a própria mãe que o aceita  muito bem. Este soro mal descartado é altamente poluente, portanto este método resolve muito bem esta questão.
Na ordenha da manhã que é maior, produziremos os vários queijos, minas, requeijão, mussarela e na ordenha  da tarde, produziremos o iogurte, tanto o natural como o acrescido de frutas. Trabalhando nestas condições, as vendas não precisarão ser diárias, podendo acontecer nas feiras de fim de semana que são mais concorridas. Quanto ao iogurte, será necessário mais uma ou duas vendas no decorrer da semana por ter menos tempo de validade, uma vez que não usaremos nenhum tipo de conservante além da refrigeração